Um novo tempo para amar

Hoje em dia, tudo muda numa velocidade assustadora. Ironicamente, os conceitos de tempo e espaço estão cada vez mais 'atrasados'. O tempo passou a ser medido pela multiplicidade de tarefas ou ações que você pode exercer em um espaço cronológico.
A partir do momento em que se acorda, o cronômetro dispara: banhar, vestir, perfumar, apressar, correr, trabalhar, ouvir, atender, conversar, lanchar, digitar, arquivar, esperar, voltar, almoçar, teclar, dormir, acordar, sonhar (sim, é nesse momento que tenho tempo pra sonhar), banhar, vestir, perfumar, apressar, correr, estagiar, ouvir, ver, escrever, lanchar, anotar, renomear, esperar, voltar, teclar, aguardar, aguardar, aguardar, cansar, dormir e desligar o cronômetro para religá-lo no dia seguinte. Mas não esquecer que, antes de desligar o cronômetro, é preciso avaliar a "produtividade" do dia. Ela é essencial para o planejamento da próxima diária.
Onde encaixar as relações nesse espaço de tempo? Que "verbo de ação" perdeu o espaço entre o ligar e o desligar do cronômetro? Amar!!! (sim, verbo de ação. Decidimos amar ou não).
As pessoas querem ser amadas, mas não estão disposta a gastar seu tempo com o amor. Elas idealizam e procuram, mas nunca encontram. E, sinceramente, dessa forma nunca irão encontrar. Não vão encontrar porque o amor ideal está apenas na cabeça (e na TV também). O amor ideal é loiro, tem olhos claros, um belo carro, um sorriso perfeito, é solteiro (de preferência) e mora numa mansão em frente ao mar.

Exageros à parte, mas a imagem criada de um par perfeito torna-se prejudicial quando se atribui à características físicas ou bens materiais a idéia de um "amor de verdade".
Desde crianças, somos ensinados a crer nos contos de fadas. Tudo bem, a ludicidade faz parte da infância. O problema é que trazemos para a vida adulta esses estereótipos criados a partir de uma ideologia. Mas não tenho pretensão em discutir, aqui, ideologias e nem tampouco convencer ninguem de que o "verdadeiro amor" é pobre, feio e negro. Só gostaria de alertar para o perigo de se idealizar e personificar o "amor".
Atualmente, os relacionamentos amorosos estão sendo banalizados e descartáveis. Se hoje estamos namorando e amanhã não estamos mais, fazemos questão de estampar "o novo amor" na cara do antigo. Fazemos questão de colocar em letras garrafais no orkut: NAMORANDO. PROBLEMA SEU, QUE ME PERDEU. Ou seja, sempre quem perde é o "outro (a)", pois em qualquer esquina arruma-se um "amor" melhor.
Tenho a sensação de que, apesar de buscar-se tanto pelo amor, as pessoas estão acreditando, cada vez menos, nele ou, pelo menos, estão tendo uma visão errônea do que é amar.
Não sou "expert" no assunto e nem pretendo ser o "dono da verdade" em minhas colocações. Mas, quando penso no amor, penso na simplicidade de gestos, na cumplicidade de momentos, no cuidado com o outro. Penso na ligação perguntando como foi o dia, no olhar apaixonado depois da colherada de sorvete, no sms desejando um "boa noite, durma bem".
Quando penso em amor, penso nos olhos fechados ao beijar, no toque das mãos, no abraço apertado antes de sair. Ao pensar no amor, lembro do quanto escrevi, do quanto dediquei músicas e do quanto sussurrei palavras ao ouvido. Penso no quanto admirei ao olhar, no quanto sofri ao partir e das vezes que chorei por não encontrar outra forma de dizer: "Eu te amo".
Os tempos podem até não ser propício ao romantismo, mas nunca vou deixar de crer que há sempre um novo tempo para amar e uma nova forma de descobrir o que é o amor.

Ferro.

No mundo das idéias

"O sonho nos dá, o que a realidade nos nega"

Quando criança, li essa frase em um muro qualquer.
Fiquei pensativo e, por muito tempo, ela foi meu "tema", meu "lema".
Preferi o mundo ideal, ao real
Preferi viver sonhos...
Assim como Amélie Poulain (vide filme "O fabuloso destino de Amélie Poulain"), imaginar-me num sonho era bem mais cômodo/seguro do que arriscar vivê-lo.
Pode-se chamar fuga da realidade ou medo do real,
mas, prefiria o "mundo das idéias".
O "mundo das coisas" tornava-se complicado a cada ano que se passava.
Viver era perigoso, causava medo.
Porém, viver era preciso!
Com o passar do tempo, mesmo tomando todo dia o chá 'amargo' da realidade,
ainda acreditava nos sonhos que havia guardado.
Idealizava o amor, arriscava a vida nas paixões e, como saldo (ou débito), as desilusões foram inevitáveis, mas quem nunca as teve? Elas fazem parte da vida também!
Hoje em dia, sou "racionalmente apaixonado", tenho todas as características de quem se entrega, desesperadamente, à paixão, mas guardo a "racionalidade" necessária para me alertar quando não sou correspondido.
Desde uns dias, tenho voltado a ser um sonhador compulsivo.
Tenho imaginado situações irreais, mas prováveis.
Tenho sonhado na primeira pessoa do plural, seja dormindo ou acordado (o melhor dos sonhos está quando acordo... dai vejo que está ali, é real!).
Tenho pensado situações, avaliado encontros e possibilidades.
Tenho amado e angustiado... Amado, quando juntos, e angustiado, quando distantes.
Tenho vivido e sentido sensações que há um tempo não vivia.
Isso tudo, tem mexido com meu mundo...
Seja no "mundo das coisas"
Ou seja no meu "mundo das idéias".

(Time like these...)


Ferro.