Apesar de cansado, viver!

Esses dias escrevi que "às vezes, viver cansa", o que é verdade. Mas, de todo modo, é melhor viver cansado do que não viver.
Há pessoas que escolhem não viver, como noticiado esses dias nos jornais locais os rumores de dois suicídios.
Refletindo sobre esses acontecimentos pensei nas aulas de sociologia, explicando que o suicídio é uma ação egoista, pois, em muitos casos, quem o pratica acha que não há outra forma para se resolver 'o problema', sendo 'a única saída' o suicídio.
Por outro lado, pensei também em quantos que, até tinham problemas, mas que não queriam morrer e não puderam escolher a vida, como meu primo Zaqueu, que foi 'estupidamente' assassinado; sem motivo algum.
É, viver cansa!
E me cansa ter que viver sem ele, sem meu melhor amigo. Estou cansado de não poder contar-lhe como estou, de não poder compartilhar que tenho amado, sofrido, suspirado. Nos últimos dias tenho sonhado com ele: andamos juntos, conversamos como sempre fizemos, sorrimos, brincamos... vivemos. Mas ao acordar, a 'realidade' me dá um tapa e mostra que não há mais vida para 'nós', só há vida para 'eu'. Engulo seco e decido viver, mesmo cansado, mas tenho a opção de viver.
Parece que não sou egoísta. Não tenho pretensão nenhuma de resolver 'meus problemas' sozinho, por isso, conto com o abraço aconchegante de minha mãe, que me consola. Com o silêncio de amor da Cilla, que não precisa dizer nada pra eu saber que ela sempre estará comigo, me ajudando no que eu precisar. Conto com o carinho de toda minha família, demonstando, a cada dia, que "estão aqui para o que der e vier" e me amando incondicionalmente.
E assim vou vivendo: me cansando e descansando em alguns braços; sentindo falta de alguns abraços também, mas que por certo chegarão na hora certa, na medida exata.
Decido, pois, viver e morrer cansado, mas certo de que vai valer a pena cada suspirar e respirar... Sim, eu sei que valerá!

A caminhada

Ele anda...
Há tempo caminha, mas não sabe para onde.
Às vezes está certo de que está no "caminho certo", daí tropeça nas pedras e acha que se enganou. Realmente, ele está perdido.
Perdidamente apaixonado, anda. Na verdade, vagueia por um caminho traiçoeiro: o seu coração, pois "coração dos outros é terra que ninguem anda", já dizia o ditado. Ele apenas balança a cabeça e concorda. Se não pode andar no dos outros, ele anda no seu.
Mas o coração dele é terra incerta também, pois depende do 'outro', que pulsa descompassado ou não pulsa.
Engana-se, então, dizendo conhecer tão palpitante coração.
Acredita que é amado só para acalmar um 'músculo involuntário' que nunca soube o que é o amor de outro, que confunde os sentidos e pensa ser recíproco um sentimento alheio ao seu. E coração pensa? Esse sim! É 'racionalmente apaixonado'.
De tanto caminhar, ele cansa. Vê miragens que lhe parecem reais o que, de certa forma, dão-lhe forças para prosseguir.
Em sua estrada há pedras, até queria transpassá-las, mas não vê nada do outro lado que o impulsione a saltar.
Ah, se houvesse um outro coração lhe esperando! Por certo caminharia sem medo e, nem se houvesse uma montanha, conseguiria ver dificuldade. Só exergaria o amor, pois desde muito cedo suspira por ele.
Caminhou muito... Os pés cansaram ainda mais, mas ele anda.
Aonde vai parar? Não se sabe, mas está certo que anda. Caminha ao encontro do nada, do mar revolto, das pedras da estrada; para o outro lado da montanha, pois lhe resta a esperança de que sua caminhada não termine tão solitária quanto a partida.