Relacionamento com as fontes, ética e sigilo da fonte.
Sob a perspectiva do filme "Intrigas de Estado".
“A fonte de qualquer informação nada mais é do que a subjetiva interpretação de um fato” (Felipe Pena – Teoria do Jornalismo).
No jornalismo, muito tem se discutido acerca do envolvimento dos jornalistas com as fontes de informação. As recomendações aos profissionais de comunicação são diversas, desde a abordagem, proximidade com as fontes e até a “desconfiança” em relação à veracidade das informações repassadas. Para Felipe Pena, a desconfiança do jornalista não é um ‘pecado’ e sim, uma norma de sobrevivência. No livro Teoria do Jornalismo, ele fala também que o jornalismo torna-se uma atividade perigosa quando se reserva o direito de não revelar suas fontes, e apesar de ajudar em certos casos (como o Watergate) pode produzir algumas distorções. Ele cita o caso do The New York Times, onde o repórter Jayson Blair foi acusado de inventar testemunhas e falsificar declarações. Para evitar transtornos como estes, o jornal The Washington Post estabeleceu algumas regras para o uso de fontes confidenciais e declarações em suas páginas, algumas delas foram: todas as declarações devem ser transcritas exatamente como foram colhidas pelos repórteres; se o repórter quiser utilizar uma fonte confidencial, sua identidade deverá ser revelada a pelo menos um editor; entrevistas em off, sem que a fonte se identifique de forma alguma, não serão mais publicadas. É recomendável ao repórter que não se envolva mais nesse tipo de conversa.
Certamente, não há jornalismo sem fontes de informação, mas é necessário que o jornalista faça o uso ‘eticamente correto’ dessas fontes e, mesmo que confie cegamente nelas, deve-se acima de tudo checar criteriosamente a veracidade dos fatos, confrontar com opiniões diversas além de colher, de preferência de forma lícita, provas materiais de que o fato realmente existiu (documentos, perícias, laudos médicos, etc.).
O filme inglês “Intrigas de Estado”, lançado este ano, aborda, dentre outros assuntos, sobre a relação entre um jornalista e sua fonte de informação e o dilema ente o que deve ou não ser publicado em decorrência de sua proximidade e envolvimento com a fonte.
Em resumo, o filme conta a história do jornalista Cal McAffrey, repórter do “Washington Globe”, que, ao se envolver na apuração do assassinato de um menor infrator, acaba descobrindo uma história maior e mais complexa. O crime investigado pelo jornalista acaba levando-o a um outro caso que, ganha repercussão em todos os jornais: a relação adúltera do congressista Stephen Collins com sua assistente, que morre em circunstâncias misteriosas no metrô. O congressista, que coincidentemente é amigo do jornalista desde a faculdade, busca proteção contra os paparazzi plantados em frente à sua casa; o jornalista quer o furo de reportagem. A relação entre os dois é cordial, de ajuda mútua, numa tentativa de conciliar a amizade antiga e os interesses pessoais. O jornalista se vê num conflito ético ao decidir apurar um caso que envolve um amigo particular. O filme critica a indústria da fofoca, dos tempos de hoje, além da suposta falta de comprometimento de alguns veículos que especulam e fantasiam situações para sustentar suas versões dos fatos.
Em síntese, o filme aborda temas de grande relevância para a reflexão dos jornalistas acerca do relacionamento entre informante e informado (até que ponto o jornalista deve confiar na fonte); a necessidade de discernir quando usa ou está sendo usado pela fonte; ética jornalística; sigilo da fonte; conflitos de interesses (público ou do público?); linha editorial do veículo; pressões externas, dentre muitos outros aspectos.
Em geral, os veículos de comunicação preocupam-se em conceituar a fonte e resolver questões diversas da relação com elas: o que é fonte; o direito de se manter o sigilo ou de ser identificada (fontes on e off); a veracidade da informação e a confiabilidade da fonte; o cultivo do bom relacionamento com a fonte pelo profissional do jornalismo; e questões como a intimidade e os riscos de submissão à fonte, acordos com favorecimentos mútuos, dissimulação de intenções, cuidados na elaboração dos textos e, enfim, procedimentos de proteção da fonte.
Não se pode negar a importância das fontes de informação, porém não significa que o jornalista deva submeter-se às fontes ou desfrutar de sua intimidade.
O atual Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros não especifica como o jornalista deve tratar sua fonte, mas garante que é direito dele resguardar o sigilo bem como não colocar em risco a integridade das fontes e dos demais profissionais com quem trabalha.
É de extrema necessidade que o jornalista tenha consciência dos limites na apuração da notícia bem como na abordagem, relacionamento e proximidade com as fontes, sejam elas oficiais, que estão no ambiente do Estado, dos governos, das empresas, de organizações como sindicatos e etc, sejam as oficiosas, aquelas que estão relacionadas a uma determinada instituição ou celebridade, mas que não têm poder formal, ou seja, ela não fala pela entidade, embora possa ser muito útil na oferta de informações ou as fontes independentes, aquelas que são úteis para soltar informações, mesmo sem terem qualquer vínculo direto nem estejam atuando internamente dentro das instituições, dos governos ou outras organizações e por não dependerem delas, têm menos interesses e mais princípios e valores a defender, teoricamente.
Enfim, a atividade jornalística é uma prática social e como tal, depende das relações sociais desde a apuração, produção e divulgação da notícia até sua veiculação e por isso, deve-se procurar, incessantemente, a lealdade aos fatos como eles acontecem, a verdade, a objetividade e a ética mesmo que estes estejam num horizonte bem distante.
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