Em meio à grama de uma calçada de ladrilhos, ela insiste em nascer. Delicada, bela e azul: uma flor do campo.
Esquecida. Apagada pela correria do dia-a-dia, ela está lá: viva! Permanece no anonimato por muito tempo. Talvez seja notada apenas pelo vigia, que a rega todas as manhãs ou por algum transeunte que, distraído, olha para chão na esperança de encontrar alguma moeda perdida.
Não nasceu por acaso. Está ali para enfeitar um jardim que, por ironia do nome, não havia nenhuma outra flor senão ela: a solitária flor azul.
Em uma manhã qualquer, ela desabrocha para vida. Não a sua própria vida, pois já havia desabrochado há muito tempo, mas para a vida de três jovens, encantados em ver a solitária flor resistir à “selva de pedras”.
Até que enfim seu propósito tinha se realizado: trazer beleza aos olhos de alguém. Por alguns minutos a bela flor do campo tem seu momento de glória.
Mas, movida por um súbito instinto humano, uma jovem, tão delicada e bela quanto à flor, a esmaga com os pés.
Sem cerimônia alguma, a moça pisa a flor como se pisa uma barata. Os outros jovens a censuram: “pobre flor; não merecia tal sorte!” e um deles até tenta, sem sucesso, consertar o estrago, colocando a pétala frágil e azul sobre o caule da urbana flor.
Se tivesse nascido na roça teria mais chances de viver! Enfeitaria o jardim de uma velha e amável senhora acompanhada de outras flores de cores e cheiros diferentes! Mas, a vida na cidade grande é cruel... até para as belas flores.
Pobre urbana flor do campo! Nem teve tempo de virar uma “estrela”. Se tivessem fotografado tal flor, certamente hoje estaria enfeitando, como papel de parede, a área de trabalho da tela de algum computador.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário