A alma está na ponta dos dedos.
Os pés cansados de caminhar.
Cercado por um oásis, não vê nada além de solidão e tristeza.
Incoerente visão que não alcança o lago de águas cristalinas à sua frente.
Não apenas a visão; os outros sentidos também não funcionam direito.
Não ouve nitidamente.
(Confunde as palavras - sorvete = parede? Do outro lado riem).
Mas não deve ser por causa da perfuração no ouvido esquerdo ou da retração no direito. Não escuta porque não tem tempo para sentar, ouvir, 'degustar' as palavras.
A maior parte do tempo está ocupado em resolver o grande e 'irresolvível' "problema".
Com a língua pra fora, se arrasta.
Está muito cansado mesmo! As forças estão se esgotando. Mesmo que, de vez em quando, sinta ânimo para caminhar, a alma grita por descanso.
Gritos mudos de socorro. Ninguém ouve sua muda voz.
Talvez nem seja um problema na 'fala', mas uma surdez coletiva.
Os outros também tem problemas 'irresolvíveis'. Não há tempo para ouvir os gritos que não sejam seus.
Egoísmo coletivo: "em primeiro lugar, EU".
Altruísmo hipócrita: "eu me importo com você, desde que não tome muito tempo, pois tenho outras coisas mais importantes a fazer, como atualizar meu Facebook ou 'twitar' minhas frases engraçadas/inteligentes retiradas de um site qualquer.
Nem mesmo as 'instituições religiosas' escapam da lógica. Há um alívio quando o pecado é "menos grave", pois, assim, não se gasta muito tempo para aconselhar, cuidar e tratar da ovelha ferida. Parece que a parábola das cem ovelhas só serve de apoio para as piadinhas com a conhecida canção evangélica.
Mas, às vezes, há o alívio. A esperança insiste em nascer, como árvore cortada que brota 'ao cheiro das águas'.
E há aqueles que nos tiram a neblina dos olhos; nos fazem enxergar além das possibilidades. Nos fazem ouvir o que, sutilmente, o coração diz.
Há os que gastam tempo conosco, enchem nossa boca de risos, compartilham vida e, nas entrelinhas das conversas triviais, nos dizem: "estou aqui e realmente me importo com você". Há reciprocidade também nas entrelinhas.
A alma ainda está nas pontas dos dedos, mas do coração ouve-se um suspiro: "ah... o alívio!"
Pode-se, então, dormir descansado para que, ao amanhecer, os pés consigam suportar, mais uma vez, as dificuldades da caminhada.
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