Relacionamento com as fontes, ética e sigilo da fonte.
Sob a perspectiva do filme "Intrigas de Estado".
“A fonte de qualquer informação nada mais é do que a subjetiva interpretação de um fato” (Felipe Pena – Teoria do Jornalismo).
No jornalismo, muito tem se discutido acerca do envolvimento dos jornalistas com as fontes de informação. As recomendações aos profissionais de comunicação são diversas, desde a abordagem, proximidade com as fontes e até a “desconfiança” em relação à veracidade das informações repassadas. Para Felipe Pena, a desconfiança do jornalista não é um ‘pecado’ e sim, uma norma de sobrevivência. No livro Teoria do Jornalismo, ele fala também que o jornalismo torna-se uma atividade perigosa quando se reserva o direito de não revelar suas fontes, e apesar de ajudar em certos casos (como o Watergate) pode produzir algumas distorções. Ele cita o caso do The New York Times, onde o repórter Jayson Blair foi acusado de inventar testemunhas e falsificar declarações. Para evitar transtornos como estes, o jornal The Washington Post estabeleceu algumas regras para o uso de fontes confidenciais e declarações em suas páginas, algumas delas foram: todas as declarações devem ser transcritas exatamente como foram colhidas pelos repórteres; se o repórter quiser utilizar uma fonte confidencial, sua identidade deverá ser revelada a pelo menos um editor; entrevistas em off, sem que a fonte se identifique de forma alguma, não serão mais publicadas. É recomendável ao repórter que não se envolva mais nesse tipo de conversa.
Certamente, não há jornalismo sem fontes de informação, mas é necessário que o jornalista faça o uso ‘eticamente correto’ dessas fontes e, mesmo que confie cegamente nelas, deve-se acima de tudo checar criteriosamente a veracidade dos fatos, confrontar com opiniões diversas além de colher, de preferência de forma lícita, provas materiais de que o fato realmente existiu (documentos, perícias, laudos médicos, etc.).
O filme inglês “Intrigas de Estado”, lançado este ano, aborda, dentre outros assuntos, sobre a relação entre um jornalista e sua fonte de informação e o dilema ente o que deve ou não ser publicado em decorrência de sua proximidade e envolvimento com a fonte.
Em resumo, o filme conta a história do jornalista Cal McAffrey, repórter do “Washington Globe”, que, ao se envolver na apuração do assassinato de um menor infrator, acaba descobrindo uma história maior e mais complexa. O crime investigado pelo jornalista acaba levando-o a um outro caso que, ganha repercussão em todos os jornais: a relação adúltera do congressista Stephen Collins com sua assistente, que morre em circunstâncias misteriosas no metrô. O congressista, que coincidentemente é amigo do jornalista desde a faculdade, busca proteção contra os paparazzi plantados em frente à sua casa; o jornalista quer o furo de reportagem. A relação entre os dois é cordial, de ajuda mútua, numa tentativa de conciliar a amizade antiga e os interesses pessoais. O jornalista se vê num conflito ético ao decidir apurar um caso que envolve um amigo particular. O filme critica a indústria da fofoca, dos tempos de hoje, além da suposta falta de comprometimento de alguns veículos que especulam e fantasiam situações para sustentar suas versões dos fatos.
Em síntese, o filme aborda temas de grande relevância para a reflexão dos jornalistas acerca do relacionamento entre informante e informado (até que ponto o jornalista deve confiar na fonte); a necessidade de discernir quando usa ou está sendo usado pela fonte; ética jornalística; sigilo da fonte; conflitos de interesses (público ou do público?); linha editorial do veículo; pressões externas, dentre muitos outros aspectos.
Em geral, os veículos de comunicação preocupam-se em conceituar a fonte e resolver questões diversas da relação com elas: o que é fonte; o direito de se manter o sigilo ou de ser identificada (fontes on e off); a veracidade da informação e a confiabilidade da fonte; o cultivo do bom relacionamento com a fonte pelo profissional do jornalismo; e questões como a intimidade e os riscos de submissão à fonte, acordos com favorecimentos mútuos, dissimulação de intenções, cuidados na elaboração dos textos e, enfim, procedimentos de proteção da fonte.
Não se pode negar a importância das fontes de informação, porém não significa que o jornalista deva submeter-se às fontes ou desfrutar de sua intimidade.
O atual Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros não especifica como o jornalista deve tratar sua fonte, mas garante que é direito dele resguardar o sigilo bem como não colocar em risco a integridade das fontes e dos demais profissionais com quem trabalha.
É de extrema necessidade que o jornalista tenha consciência dos limites na apuração da notícia bem como na abordagem, relacionamento e proximidade com as fontes, sejam elas oficiais, que estão no ambiente do Estado, dos governos, das empresas, de organizações como sindicatos e etc, sejam as oficiosas, aquelas que estão relacionadas a uma determinada instituição ou celebridade, mas que não têm poder formal, ou seja, ela não fala pela entidade, embora possa ser muito útil na oferta de informações ou as fontes independentes, aquelas que são úteis para soltar informações, mesmo sem terem qualquer vínculo direto nem estejam atuando internamente dentro das instituições, dos governos ou outras organizações e por não dependerem delas, têm menos interesses e mais princípios e valores a defender, teoricamente.
Enfim, a atividade jornalística é uma prática social e como tal, depende das relações sociais desde a apuração, produção e divulgação da notícia até sua veiculação e por isso, deve-se procurar, incessantemente, a lealdade aos fatos como eles acontecem, a verdade, a objetividade e a ética mesmo que estes estejam num horizonte bem distante.
Série: "Trabalho de Ética e Jornalismo" (3)
Postado por
Ferro.
Métodos lícitos, ilícitos, verdade, objetividade e exatidão da informação.
Desde muito tempo vincula-se à profissão do jornalista a constante busca pela verdade (não a verdade abrangente almejada pela filosofia, mas a verdade objetiva dos fatos), objetividade e imparcialidade.
A busca pela objetividade surge da necessidade de minimizar a subjetividade no relato dos fatos, pois é impossível que ela seja extinta, posto que o jornalismo é uma prática social desenvolvida por seres humanos, e a subjetividade é inerente ao homem. A objetividade jornalista é, então, nos apresentada como a solução para esse ‘problema’. São técnicas que devem ser utilizadas como, por exemplo: expor o contraditório, ouvir as partes interessadas no fato; apresentar provas auxiliares e fatos suplementares que fundamentem o essencial da notícia; utilizar citações entre aspas, para demonstrar que foi dado o direito das pessoas falarem; estruturar a notícia segundo a técnica da pirâmide invertida, chamando atenção do leitor para o que era mais importante. que é impossível dentre muitas outras técnicas.
O código de Ética dos Jornalistas Brasileiros diz, no artigo 9, que a presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística. Embora muitas vezes, diante de um furo iminente, o jornalista ignore esse artigo e denuncie, julgue e submeta pessoas à execração pública sem ter o cuidado de apurar, criteriosamente, os fatos relevantes para se chegar o mais próximo possível da verdade. A questão é: qual é o limite para a obtenção das informações?
O limite é o interesse público. Se a informação, de fato, tem relevância para a sociedade enquanto cidadã “os fins, justificam os meios”. Apesar de que o código de ética condena alguns métodos para a obtenção da informação e o jornalista deve usar os criteriosamente alguns desses métodos para evitar problemas tanto para sua fonte como para o próprio jornalista. Em uma de suas edições, o código de ética dos jornalistas dizia que era direito do jornalista ter acesso amplo às fontes de informação jornalística, especialmente aos fatos que influenciam a vida pública, mas é dever deste: respeitar a verdade, comprovar a correção da informação antes de a notícia ser publicada; recorrer a diversas fontes; garantir a audiência das partes interessadas. Mencionar fato ou circunstância cuja exatidão não possa imediatamente comprovar somente quando determinar o interesse público da informação, fazendo menção expressa a sua natureza duvidosa. Observar meios éticos e legais na obtenção da informação, identificando-se, sempre que solicitado, como jornalista no exercício da profissão. Obter documentos e fotografias com assentimento da pessoa diretamente envolvida caso a divulgação deles lhe venha a expor a vida privada. Respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
Como a prática difere-se da teoria, em muitos casos os jornalistas esquecem-se dos seus deveres e o infringem, usando câmeras escondidas, expondo a vida privada das pessoas envolvidas no caso como se isso fosse de interesse público, dentre outros.
Há inúmeras práticas ilícitas na ‘elaboração da notícia’, no processo de apuração e na obtenção de informações que devem ser evitadas pelos jornalistas. Dentre elas pode-se citar, por exemplo, veicular como culpado alguém que, sequer, foi julgado em tribunal, que ainda está na condição de suspeito; inventar histórias falsas para servir como base para uma suspeita, tentando justificá-la; filmar ou transmitir suicídios, pois se entende que, evitando tal transmissão, o jornalista protege a sociedade de outros fatos semelhantes; maquiar, inventar entrevistas; comprar documentos que comprovem a ‘veracidade’ da informação que se deseja transmitir; aceitar subornos para beneficiar alguém ou algum grupo.
Enfim, o jornalista deve buscar, criteriosamente, aproximar o resultado de seu produto jornalístico ao que se espera da objetividade e mesmo que ele tenha suas convicções ideológicas, crenças, valores e tendências políticas, deve abrir mão, muitas vezes dessas certezas, para que o pacto de confiança entre quem consome e quem produz a notícia não seja quebrado e o jornalista tenha, cada dia mais, a credibilidade que tanto se almeja.
Desde muito tempo vincula-se à profissão do jornalista a constante busca pela verdade (não a verdade abrangente almejada pela filosofia, mas a verdade objetiva dos fatos), objetividade e imparcialidade.
A busca pela objetividade surge da necessidade de minimizar a subjetividade no relato dos fatos, pois é impossível que ela seja extinta, posto que o jornalismo é uma prática social desenvolvida por seres humanos, e a subjetividade é inerente ao homem. A objetividade jornalista é, então, nos apresentada como a solução para esse ‘problema’. São técnicas que devem ser utilizadas como, por exemplo: expor o contraditório, ouvir as partes interessadas no fato; apresentar provas auxiliares e fatos suplementares que fundamentem o essencial da notícia; utilizar citações entre aspas, para demonstrar que foi dado o direito das pessoas falarem; estruturar a notícia segundo a técnica da pirâmide invertida, chamando atenção do leitor para o que era mais importante. que é impossível dentre muitas outras técnicas.
O código de Ética dos Jornalistas Brasileiros diz, no artigo 9, que a presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística. Embora muitas vezes, diante de um furo iminente, o jornalista ignore esse artigo e denuncie, julgue e submeta pessoas à execração pública sem ter o cuidado de apurar, criteriosamente, os fatos relevantes para se chegar o mais próximo possível da verdade. A questão é: qual é o limite para a obtenção das informações?
O limite é o interesse público. Se a informação, de fato, tem relevância para a sociedade enquanto cidadã “os fins, justificam os meios”. Apesar de que o código de ética condena alguns métodos para a obtenção da informação e o jornalista deve usar os criteriosamente alguns desses métodos para evitar problemas tanto para sua fonte como para o próprio jornalista. Em uma de suas edições, o código de ética dos jornalistas dizia que era direito do jornalista ter acesso amplo às fontes de informação jornalística, especialmente aos fatos que influenciam a vida pública, mas é dever deste: respeitar a verdade, comprovar a correção da informação antes de a notícia ser publicada; recorrer a diversas fontes; garantir a audiência das partes interessadas. Mencionar fato ou circunstância cuja exatidão não possa imediatamente comprovar somente quando determinar o interesse público da informação, fazendo menção expressa a sua natureza duvidosa. Observar meios éticos e legais na obtenção da informação, identificando-se, sempre que solicitado, como jornalista no exercício da profissão. Obter documentos e fotografias com assentimento da pessoa diretamente envolvida caso a divulgação deles lhe venha a expor a vida privada. Respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
Como a prática difere-se da teoria, em muitos casos os jornalistas esquecem-se dos seus deveres e o infringem, usando câmeras escondidas, expondo a vida privada das pessoas envolvidas no caso como se isso fosse de interesse público, dentre outros.
Há inúmeras práticas ilícitas na ‘elaboração da notícia’, no processo de apuração e na obtenção de informações que devem ser evitadas pelos jornalistas. Dentre elas pode-se citar, por exemplo, veicular como culpado alguém que, sequer, foi julgado em tribunal, que ainda está na condição de suspeito; inventar histórias falsas para servir como base para uma suspeita, tentando justificá-la; filmar ou transmitir suicídios, pois se entende que, evitando tal transmissão, o jornalista protege a sociedade de outros fatos semelhantes; maquiar, inventar entrevistas; comprar documentos que comprovem a ‘veracidade’ da informação que se deseja transmitir; aceitar subornos para beneficiar alguém ou algum grupo.
Enfim, o jornalista deve buscar, criteriosamente, aproximar o resultado de seu produto jornalístico ao que se espera da objetividade e mesmo que ele tenha suas convicções ideológicas, crenças, valores e tendências políticas, deve abrir mão, muitas vezes dessas certezas, para que o pacto de confiança entre quem consome e quem produz a notícia não seja quebrado e o jornalista tenha, cada dia mais, a credibilidade que tanto se almeja.
Série: "Trabalho de Ética e Jornalismo" (2)
Postado por
Ferro.
Interesse público ou interesse do público? Sob a perspectiva do filme "A Montanha dos Sete Abutres"
"Tentamos ter o dom da ubiquidade através da alteridade, pois a ilusão da onipresença é construída pelas informações produzidas pelo outro." (Felipe Pena)
Nos dias de hoje, os meios de comunicação cumprem um papel essencial na vida de qualquer ser humano e se tornam cada vez mais indispensáveis em nossa sociedade ‘pós-moderna’, principalmente, porque as tecnologias da’ nova era global’, nos permite saber de tudo o que acontece ao redor do mundo em ‘tempo real’.
O jornalismo, em especial, tem grande relevância para a formação/informação dessa sociedade e seus recortes da realidade dos fatos servirão como base para a formação da ‘opinião do público’. Nas mãos do jornalista está a responsabilidade de dizer o que é relevante ou não, o que deve ou não deve ser publicado, o que interessa ou não interessa ao público.
Diante disso, o jornalista deve ter claro em sua mente o que é de interesse público e o que é de interesse do público. Em primeiro lugar, deve-se perguntar se o fato a ser divulgado tem alguma relevância, se ele afeta diretamente a sociedade enquanto cidadã. Só então, deve-se pensar se o acontecimento pode ou não ser ‘comprado’ mais facilmente pelo espectador. Mas, a lógica mercadológica da notícia coloca essa ordem invertida. Em primeiro lugar pensa-se na vendagem que a notícia terá do que se, de fato, ela é relevante para a sociedade.
O problema não está no fato de que a notícia, de alguns tempos pra cá, tem se tornado uma mercadoria. Aliás, esse fato não é recente, vem desde o século XIX. Mas, o jornalista deve, na divulgação de um fato ou na tentativa de um furo, usar a ética profissional com a mesma intensidade que o mesmo usa na busca pela ‘objetividade’.
O questionamento sobre interesse público e interesse do público é abordado, com inteligência, bom humor e maestria no filme “A montanha dos sete abutres”, dirigido por Billy Wilder. O drama foi lançado em 1951 e trata, de forma caricata, a imprensa americana da época. O filme nos trás questionamentos de grande relevância para se pensar a respeito da ética jornalista e sobre a construção da realidade por estes.
Em resumo, o filme conta a história do repórter Charles Tatum que já havia sido demitido de 11 jornais, cada um por um motivo diferente. Ele, então, pede emprego ao Sr. Jacob Q. Boot, dono do jornal de Albuquerque, no Novo México, com a promessa de ser o melhor repórter que o jornal já tivera. Ele consegue o emprego. A cidade é pacata e não há, desde muito tempo, nenhum acontecimento notório ou catastrófico que pudesse ganhar destaque na capa do pequeno jornal ou gerar uma matéria merecedora do “Pulitzer”. Só há notícias banais, corriqueiras, nenhuma “notícia boa”, de verdade, por isso, Charles se sente totalmente entediado e sem motivação, então recebe ordem para cobrir uma corrida de cascavéis. Aparentemente seria outra matéria sem o menor atrativo, mas no meio do caminho pára pra abastecer o carro e Tatum acaba descobrindo que Leo Minosa, proprietário do posto de gasolina, ficou preso em uma mina quando procurava por "relíquias indígenas". O repórter sente que esta reportagem pode ser a chance que ele esperava para voltar à grande imprensa, mas para isto precisa controlar a ‘notícia’ fazendo-a render alguns capítulos. Charles não pensa nas consequências disso e defende-se dizendo que não faz as coisas acontecerem, “apenas as escrevo”.
Como se fosse um escritor de ficção, o repórter molda o fato como bem entende. “Sensacionaliza-o”, cria personagens, desperta o interesse do público e em alguns dias, a montanha torna-se a principal atração do Novo México. Literalmente, as pessoas se divertem enquanto Leo sofre preso na mina. Um parque de diversões é montado em frente à montanha, o espetáculo da vida real está em cartaz e as sessões estão cada vez mais lotadas. Pessoas de diversos lugares se locomovem para ver o drama de Leo. O trem que transportava os passageiros daquela região tem uma parada em frente à mina, para que todos tenham acesso ao local do espetáculo.
Ora, e não é assim também em nossa sociedade? O prédio onde fica o apartamento dos pais de Isabella Nardoni não seria um dos novos cartões-postais de São Paulo?
A sociedade envolve-se de tal maneira nos dramas jornalísticos, em especial os que aparecem como se fossem seriado, nos telejornais, que acaba se reconhecendo neles e comove-se como se os personagens desses dramas fizessem parte de sua própria família. É nessa comoção e sensibilização com a história de anônimos como Eloá, por exemplo, que as pessoas passam a transferir para suas vidas sentimentos que eram inerentes apenas aos que faziam parte da realidade dos personagens dessas notícias. Assim, milhares e milhares de pessoas choram a morte de Eloás e Isabellas, revoltam-se contra Suzanes e querem, a qualquer custo, o linchamento do vilão da vez.
Os casos de cobertura jornalística que tiveram grande repercussão ultimamente (citados acima) são, também, casos que envolvem grande interesse público, afinal de contas, deve-se combater, veementemente, o assassinato de crianças, jovens (a namorada) ou adultos (os próprios pais), não importando a motivação, deve-se respeitar o ‘direito à vida’. O problema é que muitas vezes a seleção desses ‘personagens’ pode gerar mais simpatia com público e ao invés da abordagem jornalística focar o que é relevante para a sociedade enquanto cidadã, ressalta-se apenas o que for de maior interesse do público.
Quantas crianças antes, durante e depois de Isabella foram mortas pelos pais (principais suspeitos, até agora)? Quantos crimes passionais aconteceram e acontecem, diariamente, em todo o Brasil, assim como aconteceu à Eloá? Quantos jovens assassinaram ou premeditaram a morte de seus pais de maneira fria, da mesma forma que Suzane Von Richthof fez? Vários! A todo o momento há tragédias acontecendo em todos os lugares do país.
As redações de todos os jornais estão cheias de ‘boas notícias’ para dar, bons personagens para conhecer e boas estórias para contar. Resta ao jornalista saber qual o melhor mocinho e qual o pior bandido a escolher. Para o ‘bom’ jornalista, qualquer personagem é válido desde que sua estória seja, realmente, merecedora de “virar notícia”.
"Tentamos ter o dom da ubiquidade através da alteridade, pois a ilusão da onipresença é construída pelas informações produzidas pelo outro." (Felipe Pena)
Nos dias de hoje, os meios de comunicação cumprem um papel essencial na vida de qualquer ser humano e se tornam cada vez mais indispensáveis em nossa sociedade ‘pós-moderna’, principalmente, porque as tecnologias da’ nova era global’, nos permite saber de tudo o que acontece ao redor do mundo em ‘tempo real’.
O jornalismo, em especial, tem grande relevância para a formação/informação dessa sociedade e seus recortes da realidade dos fatos servirão como base para a formação da ‘opinião do público’. Nas mãos do jornalista está a responsabilidade de dizer o que é relevante ou não, o que deve ou não deve ser publicado, o que interessa ou não interessa ao público.
Diante disso, o jornalista deve ter claro em sua mente o que é de interesse público e o que é de interesse do público. Em primeiro lugar, deve-se perguntar se o fato a ser divulgado tem alguma relevância, se ele afeta diretamente a sociedade enquanto cidadã. Só então, deve-se pensar se o acontecimento pode ou não ser ‘comprado’ mais facilmente pelo espectador. Mas, a lógica mercadológica da notícia coloca essa ordem invertida. Em primeiro lugar pensa-se na vendagem que a notícia terá do que se, de fato, ela é relevante para a sociedade.
O problema não está no fato de que a notícia, de alguns tempos pra cá, tem se tornado uma mercadoria. Aliás, esse fato não é recente, vem desde o século XIX. Mas, o jornalista deve, na divulgação de um fato ou na tentativa de um furo, usar a ética profissional com a mesma intensidade que o mesmo usa na busca pela ‘objetividade’.
O questionamento sobre interesse público e interesse do público é abordado, com inteligência, bom humor e maestria no filme “A montanha dos sete abutres”, dirigido por Billy Wilder. O drama foi lançado em 1951 e trata, de forma caricata, a imprensa americana da época. O filme nos trás questionamentos de grande relevância para se pensar a respeito da ética jornalista e sobre a construção da realidade por estes.
Em resumo, o filme conta a história do repórter Charles Tatum que já havia sido demitido de 11 jornais, cada um por um motivo diferente. Ele, então, pede emprego ao Sr. Jacob Q. Boot, dono do jornal de Albuquerque, no Novo México, com a promessa de ser o melhor repórter que o jornal já tivera. Ele consegue o emprego. A cidade é pacata e não há, desde muito tempo, nenhum acontecimento notório ou catastrófico que pudesse ganhar destaque na capa do pequeno jornal ou gerar uma matéria merecedora do “Pulitzer”. Só há notícias banais, corriqueiras, nenhuma “notícia boa”, de verdade, por isso, Charles se sente totalmente entediado e sem motivação, então recebe ordem para cobrir uma corrida de cascavéis. Aparentemente seria outra matéria sem o menor atrativo, mas no meio do caminho pára pra abastecer o carro e Tatum acaba descobrindo que Leo Minosa, proprietário do posto de gasolina, ficou preso em uma mina quando procurava por "relíquias indígenas". O repórter sente que esta reportagem pode ser a chance que ele esperava para voltar à grande imprensa, mas para isto precisa controlar a ‘notícia’ fazendo-a render alguns capítulos. Charles não pensa nas consequências disso e defende-se dizendo que não faz as coisas acontecerem, “apenas as escrevo”.
Como se fosse um escritor de ficção, o repórter molda o fato como bem entende. “Sensacionaliza-o”, cria personagens, desperta o interesse do público e em alguns dias, a montanha torna-se a principal atração do Novo México. Literalmente, as pessoas se divertem enquanto Leo sofre preso na mina. Um parque de diversões é montado em frente à montanha, o espetáculo da vida real está em cartaz e as sessões estão cada vez mais lotadas. Pessoas de diversos lugares se locomovem para ver o drama de Leo. O trem que transportava os passageiros daquela região tem uma parada em frente à mina, para que todos tenham acesso ao local do espetáculo.
Ora, e não é assim também em nossa sociedade? O prédio onde fica o apartamento dos pais de Isabella Nardoni não seria um dos novos cartões-postais de São Paulo?
A sociedade envolve-se de tal maneira nos dramas jornalísticos, em especial os que aparecem como se fossem seriado, nos telejornais, que acaba se reconhecendo neles e comove-se como se os personagens desses dramas fizessem parte de sua própria família. É nessa comoção e sensibilização com a história de anônimos como Eloá, por exemplo, que as pessoas passam a transferir para suas vidas sentimentos que eram inerentes apenas aos que faziam parte da realidade dos personagens dessas notícias. Assim, milhares e milhares de pessoas choram a morte de Eloás e Isabellas, revoltam-se contra Suzanes e querem, a qualquer custo, o linchamento do vilão da vez.
Os casos de cobertura jornalística que tiveram grande repercussão ultimamente (citados acima) são, também, casos que envolvem grande interesse público, afinal de contas, deve-se combater, veementemente, o assassinato de crianças, jovens (a namorada) ou adultos (os próprios pais), não importando a motivação, deve-se respeitar o ‘direito à vida’. O problema é que muitas vezes a seleção desses ‘personagens’ pode gerar mais simpatia com público e ao invés da abordagem jornalística focar o que é relevante para a sociedade enquanto cidadã, ressalta-se apenas o que for de maior interesse do público.
Quantas crianças antes, durante e depois de Isabella foram mortas pelos pais (principais suspeitos, até agora)? Quantos crimes passionais aconteceram e acontecem, diariamente, em todo o Brasil, assim como aconteceu à Eloá? Quantos jovens assassinaram ou premeditaram a morte de seus pais de maneira fria, da mesma forma que Suzane Von Richthof fez? Vários! A todo o momento há tragédias acontecendo em todos os lugares do país.
As redações de todos os jornais estão cheias de ‘boas notícias’ para dar, bons personagens para conhecer e boas estórias para contar. Resta ao jornalista saber qual o melhor mocinho e qual o pior bandido a escolher. Para o ‘bom’ jornalista, qualquer personagem é válido desde que sua estória seja, realmente, merecedora de “virar notícia”.
Série: "Trabalho de Ética e Jornalismo" (1)
Postado por
Ferro.
Sob a perspectiva do filme "Jenipapo"
Definir ética é uma tarefa um tanto quanto complicada, complexa. A palavra tem sua origem no grego, éthos, e pode significar, simultaneamente, costume e propriedade do caráter. Entende-se por ética, também, um conjunto de regras, princípios ou maneiras de agir que estão de acordo com o que é aceito pela sociedade como moralmente bom, belo, justo. Mas, o problema é que não há uma definição distinta, do que seja bom ou ruim, belo ou feio, justo ou injusto.
No jornalismo, como em outras profissões, existe o seu próprio código de ética. Nele, estão contidas as regras que regem toda conduta desejável do “bom profissional”. O código de ética também funciona, de certa forma, como um escudo protetor para o jornalista. Se ele for devidamente usado, o profissional, dificilmente, sofrerá alguma retaliação pública e pode livrar-se de processos judiciais indesejáveis, por exemplo.
O 4º artigo do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, diz que “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação” e o 6º artigo inciso VI diz que é dever do jornalista “ não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha”. Ora, se analisarmos ‘eticamente’ o filme Jenipapo, veremos que o repórter americano Michael Coleman violou esses artigos, visto que o Código de Ética dos Jornalistas brasileiro está em vigor desde 1987.
Em resumo, “Jenipapo”, é um filme nacional, de 1996 que retrata a estória de um jornalista (Michael Coleman) que tenta, a qualquer custo, entrevistar um padre ativista e carismático, Stephen Louis, que apóia a luta pela reforma agrária em uma comunidade do Nordeste. O jornalista americano tem como fonte ‘primária’, sua namorada. Ela é secretária do senador Emílio Mattar e consegue, muitas vezes, informações preciosas para que o seu amado consiga entrevistar o tal padre, mas de nada adianta. Mesmo que o Congresso esteja votando uma lei conservadora contra a reforma agrária, o padre Stephen, que sempre se pronunciara a favor da reforma, mantém-se no silêncio e decide não conceder nenhuma entrevista que exponha o seu apoio. Stephen Louis era um padre, até então, bem relacionado com a ‘mídia’, mas essa decisão de manter-se em silêncio provoca ainda mais agitação nas redações dos jornais, que tentam, desesperadamente dar um ‘furo’, uma entrevista ‘exclusiva’. Michael Coleman, que há tempos ‘pesquisa’ a vida do padre, decide abandonar a ética jornalista e mente, em primeiro lugar, para o seu editor, dizendo que conseguiu a, tão esperada, entrevista. Pode-se dizer que o jornalista ‘conhecia’ o padre muito bem, pois, por muitas vezes, via entrevistas de Stephen e reparava, detalhadamente, na maneira como o padre falava. O repórter, então, forja uma entrevista com o padre, que é publicada como ‘verdade’. A entrevista tem grande repercussão nacional e, por causa dela, a lei não é aprovada no congresso.
O grande problema quando se publica uma mentira, é que ela pode ter resultados drásticos. No caso do filme, a morte do padre Stephen e, na vida real, resultados irreparáveis, como no famoso caso da Escola Base, onde duas mães registraram queixa contra os diretores da Escola de Educação Infantil Base, denunciando a ocorrência de abuso sexual a seus filhos, um menino e uma menina, ambos com quatro anos de idade. Mesmo sem provas, no primeiro dia de ‘investigação’, haviam declarações do delegado responsável pelo inquérito sobre os supostos abusos sexuais e a imprensa da época as ecoou em coro. A população queria ‘fazer justiça’ e, como retaliação, eles depredaram e saquearam a escola e a casa dos donos também, além do linchamento moral destes. Em resumo, os proprietários da escola foram inocentados por falta de provas, mas a imprensa não se retratou formalmente pelos erros cometidos, com exceção da Folha de S. Paulo que lançou uma série de palestras e editorias sobre o erro.
Um famoso caso a respeito do tema ‘ética no jornalismo’ foi a falsa entrevista de um suposto integrante do PCC apresentada no Programa Domingo Legal, de Gugu Liberato, em 2003. Segundo a justiça, Gugu violou, simultaneamente, os artigos 2º e 16º da Lei de Imprensa. O artigo 2º condena a apologia ao crime, ou seja, a veiculação de imagens e mensagens de criminosos. Já o artigo 16º trata da publicação de notícias falsas, fatos irreais. Por isso, Gugu poderia ter sido processado judicialmente duas vezes e, se condenado, levaria de três meses a um ano de prisão ou ao pagamento de multa de 20 salários mínimos, mas, o apresentador não foi indiciado.
O professor de Teoria da Comunicação, André Rittes, declarou, na época, que acreditava que, apesar do escândalo em âmbito nacional, o episódio logo seria esquecido. Em entrevista publicada no site www.online.unisanta.br em 2003, o professor declarou que “o Gugu é uma figura que está acima dessas coisas. Os telespectadores estão tão acostumados com seu programa, que não se importam muito com o que ele faz. Além disso, a memória das pessoas é muito superficial”. Realmente, foi o que aconteceu. Independentemente de o caso estar relacionado a uma ‘celebridade’ ou não, a lei de Imprensa deveria ser válida, mas, assim como em outras leis no Brasil, essa não poderia ser diferente.
Enfim, o debate sobre a ética no jornalismo torna-se extremamente necessário já que hoje em dia a imprensa, mais do que em qualquer época, esta sendo pautada pelas informações vazadas e pelas declarações em off. As redações dos jornais estão abarrotadas de informações que visam denegrir a imagem de alguém, beneficiar grupos políticos, religiosos ou quem quer que seja. Informações que são publicadas baseadas em declarações, sem que com isso, os jornalistas procurem verificar a veracidade delas.
Não se pode (ou se deve) fazer um jornalismo baseado no denuncismo, na fé de que “às vezes, Deus nos usa sem o nosso conhecimento”, na ‘lógica mercadológica da noticia’, na pressão do deadline, que obriga o jornalismo a deixar a apuração dos fatos para segundo plano. Pois o jornalismo de qualidade não deve ser feito de informações vazadas ou de declarações, mas sim, na apuração exaustiva dos fatos. Embora entre o “dever ser” e o “ser” haja uma diferença gritante.
Definir ética é uma tarefa um tanto quanto complicada, complexa. A palavra tem sua origem no grego, éthos, e pode significar, simultaneamente, costume e propriedade do caráter. Entende-se por ética, também, um conjunto de regras, princípios ou maneiras de agir que estão de acordo com o que é aceito pela sociedade como moralmente bom, belo, justo. Mas, o problema é que não há uma definição distinta, do que seja bom ou ruim, belo ou feio, justo ou injusto.
No jornalismo, como em outras profissões, existe o seu próprio código de ética. Nele, estão contidas as regras que regem toda conduta desejável do “bom profissional”. O código de ética também funciona, de certa forma, como um escudo protetor para o jornalista. Se ele for devidamente usado, o profissional, dificilmente, sofrerá alguma retaliação pública e pode livrar-se de processos judiciais indesejáveis, por exemplo.
O 4º artigo do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, diz que “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação” e o 6º artigo inciso VI diz que é dever do jornalista “ não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha”. Ora, se analisarmos ‘eticamente’ o filme Jenipapo, veremos que o repórter americano Michael Coleman violou esses artigos, visto que o Código de Ética dos Jornalistas brasileiro está em vigor desde 1987.
Em resumo, “Jenipapo”, é um filme nacional, de 1996 que retrata a estória de um jornalista (Michael Coleman) que tenta, a qualquer custo, entrevistar um padre ativista e carismático, Stephen Louis, que apóia a luta pela reforma agrária em uma comunidade do Nordeste. O jornalista americano tem como fonte ‘primária’, sua namorada. Ela é secretária do senador Emílio Mattar e consegue, muitas vezes, informações preciosas para que o seu amado consiga entrevistar o tal padre, mas de nada adianta. Mesmo que o Congresso esteja votando uma lei conservadora contra a reforma agrária, o padre Stephen, que sempre se pronunciara a favor da reforma, mantém-se no silêncio e decide não conceder nenhuma entrevista que exponha o seu apoio. Stephen Louis era um padre, até então, bem relacionado com a ‘mídia’, mas essa decisão de manter-se em silêncio provoca ainda mais agitação nas redações dos jornais, que tentam, desesperadamente dar um ‘furo’, uma entrevista ‘exclusiva’. Michael Coleman, que há tempos ‘pesquisa’ a vida do padre, decide abandonar a ética jornalista e mente, em primeiro lugar, para o seu editor, dizendo que conseguiu a, tão esperada, entrevista. Pode-se dizer que o jornalista ‘conhecia’ o padre muito bem, pois, por muitas vezes, via entrevistas de Stephen e reparava, detalhadamente, na maneira como o padre falava. O repórter, então, forja uma entrevista com o padre, que é publicada como ‘verdade’. A entrevista tem grande repercussão nacional e, por causa dela, a lei não é aprovada no congresso.
O grande problema quando se publica uma mentira, é que ela pode ter resultados drásticos. No caso do filme, a morte do padre Stephen e, na vida real, resultados irreparáveis, como no famoso caso da Escola Base, onde duas mães registraram queixa contra os diretores da Escola de Educação Infantil Base, denunciando a ocorrência de abuso sexual a seus filhos, um menino e uma menina, ambos com quatro anos de idade. Mesmo sem provas, no primeiro dia de ‘investigação’, haviam declarações do delegado responsável pelo inquérito sobre os supostos abusos sexuais e a imprensa da época as ecoou em coro. A população queria ‘fazer justiça’ e, como retaliação, eles depredaram e saquearam a escola e a casa dos donos também, além do linchamento moral destes. Em resumo, os proprietários da escola foram inocentados por falta de provas, mas a imprensa não se retratou formalmente pelos erros cometidos, com exceção da Folha de S. Paulo que lançou uma série de palestras e editorias sobre o erro.
Um famoso caso a respeito do tema ‘ética no jornalismo’ foi a falsa entrevista de um suposto integrante do PCC apresentada no Programa Domingo Legal, de Gugu Liberato, em 2003. Segundo a justiça, Gugu violou, simultaneamente, os artigos 2º e 16º da Lei de Imprensa. O artigo 2º condena a apologia ao crime, ou seja, a veiculação de imagens e mensagens de criminosos. Já o artigo 16º trata da publicação de notícias falsas, fatos irreais. Por isso, Gugu poderia ter sido processado judicialmente duas vezes e, se condenado, levaria de três meses a um ano de prisão ou ao pagamento de multa de 20 salários mínimos, mas, o apresentador não foi indiciado.
O professor de Teoria da Comunicação, André Rittes, declarou, na época, que acreditava que, apesar do escândalo em âmbito nacional, o episódio logo seria esquecido. Em entrevista publicada no site www.online.unisanta.br em 2003, o professor declarou que “o Gugu é uma figura que está acima dessas coisas. Os telespectadores estão tão acostumados com seu programa, que não se importam muito com o que ele faz. Além disso, a memória das pessoas é muito superficial”. Realmente, foi o que aconteceu. Independentemente de o caso estar relacionado a uma ‘celebridade’ ou não, a lei de Imprensa deveria ser válida, mas, assim como em outras leis no Brasil, essa não poderia ser diferente.
Enfim, o debate sobre a ética no jornalismo torna-se extremamente necessário já que hoje em dia a imprensa, mais do que em qualquer época, esta sendo pautada pelas informações vazadas e pelas declarações em off. As redações dos jornais estão abarrotadas de informações que visam denegrir a imagem de alguém, beneficiar grupos políticos, religiosos ou quem quer que seja. Informações que são publicadas baseadas em declarações, sem que com isso, os jornalistas procurem verificar a veracidade delas.
Não se pode (ou se deve) fazer um jornalismo baseado no denuncismo, na fé de que “às vezes, Deus nos usa sem o nosso conhecimento”, na ‘lógica mercadológica da noticia’, na pressão do deadline, que obriga o jornalismo a deixar a apuração dos fatos para segundo plano. Pois o jornalismo de qualidade não deve ser feito de informações vazadas ou de declarações, mas sim, na apuração exaustiva dos fatos. Embora entre o “dever ser” e o “ser” haja uma diferença gritante.
Análise Estética do filme “O Fantasma da Ópera”
Postado por
Ferro.
O musical “O Fantasma da Ópera”, de Andrew Lloyd Webber, dirigido por Edward Sedgwick, baseia-se num livro do escritor francês Gaston Leroux e aborda, dentre outros temas, a questão da ‘beleza’.
Desde a antiguidade, procura-se, sem sucesso, conceituar a beleza. Essa discussão deixou de ser, meramente estética, e passou a ser, também, “objeto” de discussão filosófica. Para Kant, a definição de beleza é “problemática”, já que esse conceito tem um caráter, quase que estritamente, subjetivo. Para ele, “Não pode haver nenhuma regra de gosto objetiva, que determine, por meio de conceitos, o que seja belo”. Para Platão, o belo está relacionado ao que é agradável à vista.
Na crítica da obra de arte, o conceito de belo entra em parceria com as noções de gosto, de equilíbrio, de harmonia, de perfeição - efeitos que se produzem no sujeito apreciador, ou seja, a beleza pode estar, também, nos olhos de quem vê.
A primeira cena do filme “O Fantasma da Ópera” está composta em preto e branco. Ela nos transporta a um leilão, que acontece no empoeirado ‘Opera de Paris’. Há morcegos e teias de aranha na cena, um contraste com os ‘engomados’ e, rigorosamente vestidos, participantes do leilão. Dentre os itens a serem leiloados, está um suntuoso lustre que havia sido recuperado depois do “famoso desastre” ocorrido naquele mesmo teatro.
A transição para a cena seguinte é interessantíssima! Como num passe de mágica, o lustre se acende, volta ao seu lugar, traz cor ao filme e enche de vida o antigo e ‘morto’ teatro. O diretor do filme optou por inverter o efeito que o “preto e branco” produz. As cenas com esse efeito, na verdade, são as que remetem aos ‘dias atuais’. Em contradição, ele usou as cores nas cenas do ‘passado’, onde a trama do filme se desenrola.
Christine Daaé, protagonista do filme, é uma jovem cantora da companhia de teatro. Ela substitui, com louvor, a estrela da companhia e após sua triunfal apresentação, explica a sua amiga Meg Giry, de onde vem o “talento”. Ela diz ter aulas com o “Anjo da Música” enviado por seu pai ao morrer. Estaria seu talento sendo atribuído ao ‘divino’, sobrenatural? O fato é que Christine acredita ser ‘agraciada’ pelas aulas de um anjo. A cena em que mostra o encontro com o “anjo”, que posteriormente viria a se revelar “fantasma”, é acompanhada por uma música que mescla o erudito com o ‘contemporâneo’, pois há nela elementos atuais como o uso de guitarra e bateria, por exemplo.
A fotografia do filme é belíssima! Ela adéqua a iluminação certa a cada tipo de cena. Dependendo do tema, os musicais apresentados no teatro são cheios de cor, luz e muitas velas. A cena do baile de máscaras é uma das mais elaboradas. As coreografias foram milimetricamente executadas, as luzes são fortes, vibrantes. As ‘falas’, nessa cena, reforçam a idéia de que as máscaras são necessárias. Elas escondem quem você realmente é e te envolvem num ‘faz-de-conta’, onde há a possibilidade de ser quem você quiser.
A cena em que Christine visita o cemitério onde está o túmulo de seu pai, é forte e sombria. As cores frias dão à cena a sensação de solidão, de vazio. As esculturas dos anjos, espalhadas por todo o cemitério e a arquitetura dos túmulos revelam a influência gótica no musical. A ‘frieza’ da cena é quebrada pela luz ‘quente’, vermelha, que sai do túmulo de seu pai e ilumina a atriz principal.
O musical é belíssimo, os atores e atrizes estão devidamente caracterizados. O figurino reproduz, fielmente, a ‘moda’ do século XIX.
Em toda a trama, o filme nos desperta as mais variadas sensações e, nas entrelinhas, nos deixa uma importante reflexão: seria a genialidade inútil se a ‘beleza’ não acompanhar o gênio? O “Fantasma”, desde cedo, foi rejeitado pela sociedade, pois estava fora de um padrão. Em um dos trechos ele desabafa: um fantasma que “sonha secretamente com a beleza”.
Se o ‘padrão’ é cruel com os ‘diferentes’, “esconda seu rosto, para que o mundo não o encontre”, ou mascare-se, para que o mundo o aceite como você não é.
Desde a antiguidade, procura-se, sem sucesso, conceituar a beleza. Essa discussão deixou de ser, meramente estética, e passou a ser, também, “objeto” de discussão filosófica. Para Kant, a definição de beleza é “problemática”, já que esse conceito tem um caráter, quase que estritamente, subjetivo. Para ele, “Não pode haver nenhuma regra de gosto objetiva, que determine, por meio de conceitos, o que seja belo”. Para Platão, o belo está relacionado ao que é agradável à vista.
Na crítica da obra de arte, o conceito de belo entra em parceria com as noções de gosto, de equilíbrio, de harmonia, de perfeição - efeitos que se produzem no sujeito apreciador, ou seja, a beleza pode estar, também, nos olhos de quem vê.
A primeira cena do filme “O Fantasma da Ópera” está composta em preto e branco. Ela nos transporta a um leilão, que acontece no empoeirado ‘Opera de Paris’. Há morcegos e teias de aranha na cena, um contraste com os ‘engomados’ e, rigorosamente vestidos, participantes do leilão. Dentre os itens a serem leiloados, está um suntuoso lustre que havia sido recuperado depois do “famoso desastre” ocorrido naquele mesmo teatro.
A transição para a cena seguinte é interessantíssima! Como num passe de mágica, o lustre se acende, volta ao seu lugar, traz cor ao filme e enche de vida o antigo e ‘morto’ teatro. O diretor do filme optou por inverter o efeito que o “preto e branco” produz. As cenas com esse efeito, na verdade, são as que remetem aos ‘dias atuais’. Em contradição, ele usou as cores nas cenas do ‘passado’, onde a trama do filme se desenrola.
Christine Daaé, protagonista do filme, é uma jovem cantora da companhia de teatro. Ela substitui, com louvor, a estrela da companhia e após sua triunfal apresentação, explica a sua amiga Meg Giry, de onde vem o “talento”. Ela diz ter aulas com o “Anjo da Música” enviado por seu pai ao morrer. Estaria seu talento sendo atribuído ao ‘divino’, sobrenatural? O fato é que Christine acredita ser ‘agraciada’ pelas aulas de um anjo. A cena em que mostra o encontro com o “anjo”, que posteriormente viria a se revelar “fantasma”, é acompanhada por uma música que mescla o erudito com o ‘contemporâneo’, pois há nela elementos atuais como o uso de guitarra e bateria, por exemplo.
A fotografia do filme é belíssima! Ela adéqua a iluminação certa a cada tipo de cena. Dependendo do tema, os musicais apresentados no teatro são cheios de cor, luz e muitas velas. A cena do baile de máscaras é uma das mais elaboradas. As coreografias foram milimetricamente executadas, as luzes são fortes, vibrantes. As ‘falas’, nessa cena, reforçam a idéia de que as máscaras são necessárias. Elas escondem quem você realmente é e te envolvem num ‘faz-de-conta’, onde há a possibilidade de ser quem você quiser.
A cena em que Christine visita o cemitério onde está o túmulo de seu pai, é forte e sombria. As cores frias dão à cena a sensação de solidão, de vazio. As esculturas dos anjos, espalhadas por todo o cemitério e a arquitetura dos túmulos revelam a influência gótica no musical. A ‘frieza’ da cena é quebrada pela luz ‘quente’, vermelha, que sai do túmulo de seu pai e ilumina a atriz principal.
O musical é belíssimo, os atores e atrizes estão devidamente caracterizados. O figurino reproduz, fielmente, a ‘moda’ do século XIX.
Em toda a trama, o filme nos desperta as mais variadas sensações e, nas entrelinhas, nos deixa uma importante reflexão: seria a genialidade inútil se a ‘beleza’ não acompanhar o gênio? O “Fantasma”, desde cedo, foi rejeitado pela sociedade, pois estava fora de um padrão. Em um dos trechos ele desabafa: um fantasma que “sonha secretamente com a beleza”.
Se o ‘padrão’ é cruel com os ‘diferentes’, “esconda seu rosto, para que o mundo não o encontre”, ou mascare-se, para que o mundo o aceite como você não é.
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